sexta-feira, 29 de abril de 2011

Musicoflias: TGB - De Onde Sopram Os Ventos ( Evil Things 2010 )




Sócrates garantiu hoje que o TGV avança mesmo, mas eu posso jurar e trejurar que Mário Delgado na guitarrra, Sérgio Carolino na tuba e Alexandre Frazão na bateria - os TGB – já avançaram. Os TGB Tuba, Guitarra, Bateria – são uma das mais brilhantes formações de jazz portuguesas, na qual o trabalho de grupo é o pressuposto originário e as supostas limitações melódicas e harmónicas da bateria e da tuba são superadas pela mestria de Alexandre Frazão e Sérgio Carolino.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

France Telecom: Tempo de Continuar a Ler Bourdieu


Trabalhador da France Telecom morre imolado

Um trabalhador da empresa francesa France Telecom imolou-se pelo fogo nesta terça-feira. O homem tinha 57 anos, era casado com quatro filhos. Mais de 35 trabalhadores da empresa suicidaram-se entre 2008 e 2009.

26.04.2011 - 19:06 Por PÚBLICO

A precariedade afecta profundamente aquele ou aquela que a sofre; tornando todo o futuro incerto, proíbe qualquer antecipação racional, em particular, esse mínimo de esperança e de crença no futuro que é necessária à revolta, sobretudo colectiva, contra o presente, por mais intolerável que este seja.

Pierre Bourdieu

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dicionário Do Mofino 32

Banco, s. m. Glosando Hope, a única entidade que empresta o dinheiro que pensamos não precisar a quem conseguir provar não precisar muito dele; para além da geromancia – a adivinhação do futuro através da leitura de vísceras praticada pelos arúspices – e do casamento com mulher rixosa, contrair um empréstimo num Banco sempre foi uma forma excelente de antever o futuro; depois de John Galbraith ter afirmado que a maneira como os bancos ganham dinheiro é tão simples que é repugnante, os bancos engendraram mil e outras maneiras de o ganhar, especiosas e igualmente repugnantes – os produtos financeiros; instituição sortílega e taumaturga que compra e vende dinheiro, e é biblicamente capaz de transformar uma depositada nota de 100 em duas de 50.

sábado, 23 de abril de 2011

Musicofilias: Anna Calvi - No More Words



Brian Eno, oracular, já a investiu como o acontecimento musical “mais importante desde Patti Smith” e endossou-lhe uma carta em que afirmava que a música dela era repleta “de inteligência, romance e paixão... que mais podemos exigir da arte?”. Nick Cave escolheu-a para a primeira parte dos concertos de Grinderman em 2010, e a sisuda BBC sugeriu que a mantenhamos debaixo de olho no próximo ano, o que, bem vista e ouvida a italo-britânica, é um conselho avisadíssimo.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Notícias da Crise: Susan Sontag Responde aos Verdadeiros Finlandeses



Todas as culturas têm os seus meridionais - gente que trabalha o menos possível, preferindo dançar, beber, querelar, matar as mulheres infiéis; que têm gestos mais vivos, olhos mais cintilantes, roupas mais garridas, casas decoradas com mais fantasia, um maravilhoso sentido do ritmo e encanto, encanto, encanto; gente pouco ambiciosa, ou antes indolente, ignorante, supersticiosa, desinibida, nunca pontual, visivelmente mais pobre ( como não poderia deixar de ser, dizem os do norte); que mau grado a sua pobreza e sordidez levam vidas invejáveis - ou antes, invejadas pelos setentrionais, sacrificados do trabalho, sensualmente inibidos e com governos menos corruptos.

Susan Sontag - The Volcano Lover

terça-feira, 12 de abril de 2011

Não Saiba a Tua Mão Esquerda o Que Faz a Direita


Para além de realizar a injunção cristã de amar o próximo como a si mesmo - e fazer tudo para que esse próximo faça o mesmo -, o verdadeiro filantropo também nunca se esquece de Mateus 6.3: não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Leituras da Crise - ŽIŽEK, o FMI e O HERÓICO PARANÓICO HARA-KIRI


Durante os protestos deste ano contra as medidas de austeridade da Eurozone - na Grécia e, em menor escala, Irlanda, Itália e Espanha - duas estórias se impuseram. A estória dominante, já estabelecida, propõe uma naturalização apolítica da crise: as medidas de regulamentação são apresentadas não fundadas em escolhas políticas, mas como imperativos de uma lógica financeira neutra – se queremos que nossas economias se estabilizem, simplesmente temos que engolir o remédio amargo. A outra estória, a dos trabalhadores, estudantes e pensionistas que participaram do protesto, enxerga as medidas de austeridade como outra tentativa do capital financeiro internacional de desmantelar os últimos vestígios do Estado de bem-estar.O FMI aparece então por uma perspectiva, como um agente neutro da disciplina e da ordem, e por outra, como um agente opressor do capital global.
Há um momento de verdade nas duas perspectivas. Não se pode deixar passar em branco a dimensão de superego com que o FMI trata seus Estados clientes – enquanto os repreende e pune pelas dívidas não pagas, simultaneamente oferece novos empréstimos, que todos sabem que não poderão ser pagos, sugando-os então para mais fundo no círculo vicioso de dívida gerando dívidas. Por outro lado, a razão pela qual esta estratégia de superado funciona é a de que, o Estado que toma dinheiro emprestado, sabendo perfeitamente que jamais terá de pagar a dívida em sua total dimensão, tem esperanças de lucrar com isto em última instância.
(..)É comum se ouvir dizer que a verdadeira mensagem da crise na Eurozone é que não só o Euro, mas o projeto de uma Europa unida está morto. Mas antes de endossar esta afirmação geral, devemos adicionar uma torção Leninista a ela: a Europa está morta – OK, mas qual Europa? A resposta é: a Europa pós-política da acomodação ao mercado mundial, a Europa que repetidamente foi rejeitada nos referendos, a Europa tecnocra-ta expert de Bruxelas. A Europa que apresenta a si mesma como a fria razão europeia contra a paixão e corrupção gregas, a favor da matemática contra os patetas. Mas, por utópico que possa parecer, o espaço ainda está aberto para outra Europa: uma Europa re-politizada, fundada num projeto emancipatório comum, a Europa que deu à luz a antiga democracia Grega, às revoluções francesa e russa. É por isso que se deve evitar a tentação de se reagir em relação à crise financeira atual com um recuo aos Estados-nação totalmente soberanos, presas fáceis para a flutuação livre do capital internacional,que pode jogar um Estado contra outro. Mais que nunca, a resposta a todas as crises deve ser mais internacionalista e universalista do que a universalidade do capital global.

SLAVOJ ŽIŽEK - Originalmente publicado na edição de número 64 da New Left Review

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Epiménides, Conselheiro de Estado: O Paradoxo do Mentiroso


Epiménides, que era conselheiro de estado, disse: todos os conselheiros de estado são mentirosos. Epiménides está a mentir ou a dizer a verdade?
Se mente, efectivamente, dizendo que todos os conselheiros são mentirosos, então não mente e está a dizer a verdade. Mas se diz a verdade, dizendo que todos os conselheiros são mentirosos, então mente despudoradamente, portanto não mente, diz a verdade, portanto mente, logo não mente, então mente...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Dicionário Do Mofino 31

Mentira, s.f. Inadequatio rei et intellectu ( o que, depois de engrolado o latim, dá inadequação das coisas... esperem lá... à mente); anatomicamente, perna curta e língua comprida; psicologicamente, de natureza tão gregária que mesmo o lento apanha um cento; a piedosa é uma cortesia imaginosa à inconveniência do mundo; segundo a Teoria dos Mundos Possíveis de David Lewis, a mentira descreve-nos o mundo não como ele é, mas como seria se fosse feito à medida da desmedida das minhas trampolinices; a crer em Mark Twain, há três espécies de mentiras: as mentiras, as mentiras sagradas e as estatísticas que, sabemos nós, são para os economistas uma espécie de pontilhismo numérico.